No banco da casa gasta, denunciando a passagem do tempo,
eles se encontram. Olhos baixos, coisas a partilhar. Coisas sobre o tempo. Um diz
que está tudo errado, o outro responde que a vida exige paciência.
A barba branca também diz que o tempo é cruel, é duro. O sorriso
do outro alivia com a certeza de que há muita beleza nas pedras. Tem um relógio
na parede, mas ninguém nota.
O tempo é diferente pra eles. Algumas dores do que passou em
um. Algumas dores do que não passou no outro.
Continuam conversando.
E um silêncio acontece.
Podem ter passado 03 minutos ou 04 décadas. Não se sabe.
Uma tosse quebra o silêncio. E uma lágrima escorre.
Levantam e caminham. Lado a lado. Ficam olhando a vida fora
do banco. A casa parece mais longe. Andaram. 05 passos pra um, e 35 quarteirões
pro outro.
Não há vontade de voltar. Não há nada errado. Não há motivo
pra voltar.
O cansaço bate. Um pensa e diz: vamos. O outro responde:
vamos.
Continuam. Com pressa. Com medo. Com esperança. Com vontade.
O caminhar faz dor. Traz amor. Produz feridas. E cicatrizes.
Mas continuam.
Eles gostam do estrago.
Aceitam a condição.
Encontram outro banco, se olham pela primeira vez. Se
reconhecem.
O velho mora dentro do moço.
O moço mora dentro do velho.